Conselho para Palseng
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Conselho para Palseng
por Dodrupchen Jigme Tenpe Nyima
Eu me curvo respeitosamente ao guru, Drimé Özer,
E, com as mãos juntas, presto homenagem.
Aqui, uma minúscula gotícula de instrução do
Onisciente guru, eu devo agora explicar.
Sobre o assunto do que nós chamamos “mente” (sems) e “consciência pura” (rig pa), algumas escrituras comuns dizem que tudo que é “mente principal” é mente, enquanto a cognição é o que é “claro e desperto”. Assim, eles alegam que mente é sinônimo de mente ordinária(rnam shes), enquanto consciência é sinônimo de cognição (shes pa). Porém, explicações assim são insuficientes quando se trata de identificar mente e consciência como elas são faladas nos textos Dzogchen.
No Dzogchen, a mente é a raiz da existência samsárica e inclui uma tendência a se apegar a coisas como sendo reais; enquanto a consciência pura é a sabedoria de estabelecer-se equilibradamente de acordo com a realidade intrínseca (darmata). Além do mais, isto não é como a mera visão comum do Caminho do Meio; ela é superior porquê ela traz um tipo especial de certeza através do raciocínio que prova como o insight do Buda sobre como as coisas são está presente como a base perfeita da natureza básica dos seres comuns.
Em um nível último, tanto existência verdadeira e quanto ausência de existência verdadeira são entendidas como sendo iguais, e todos maneirismos teóricos são assim ultrapassados diante do raciocínio último. No nível convencional, também, esta abordagem é superior porque ela incorpora a prática de ver todos fenômenos como pureza infinita.
A abordagem Dzogchen também é superior aos veículos do mantra externo, pois ela incorpora o profundo ponto chave de enxergar os fenômenos como sendo formas-búdicas e sabedoria, e então estabelecer-se, sem artifício, na grande condição natural.
Ela também é superior ao veículo das perfeições transcendentes porque ela envolve ver fenômenos como pureza infinita.
E ela também é superior aos veículos do mantra externo, porquê mesmo que estes tantras tenham a yoga das deidades, eles não tem a visão que reconhece que, em seus estados naturais, estas aparências tem sempre sido iluminadas como formas-búdicas e sabedoria.
Ela também é mais profunda do que a Mahayoga e a Anuyoga, porquê não há necessidade de treinar nos estágios da geração e da completude, estágios esses que envolvem esforço. Em vez disso, uma vez que todos os fenômenos são reconhecidos como iluminação primordial, e a radiância da grande sabedoria pura, é suficiente simplesmente repousar em um reconhecimento disto, relaxando na natureza da base.
Isto difere da abordagem tomada por alguns meditadores contemporâneos, aqueles que meramente estabelecem-se na percepção delusória sem cortarem pela raiz o apego à realidade, e sem realizarem a natureza da pureza infinita.
Mais detalhes sobre como a natureza convencional é formas-búdicas e sabedoria, ou como em última análise tanto pureza quanto impureza são iguais em não ter uma natureza verdadeira, assim como provas de como as aparências são pureza infinita e assim por diante, podem ser encontradas nos trabalhos do onisciente Rongzom e do vitorioso Longchenpa.
Em suma, eu me pergunto se alternar a meditação entre análise, enquanto a certeza sobre estes pontos ainda não tiver surgido, e estabelecer-se, quando a certeza tiver surgido e não diminuir, possam não ser meios autênticos de sustentar este entendimento.
Qualquer tolice, análise enganada,
Ou fala tola, triplamente inválida,
No que eu escrevi aqui,
É devido a mim, o tolo.
Ainda, se algo aqui tem valor,
Leve isto como seu próprio ornamento.
Eu, o jovial Jigme, escrevi isto em resposta ao pedido de Palseng. Possa isto ser virtuoso!
| Traduzido do tibetano para o inglês por Adam Pearcey em 2015.
| Traduzido do inglês para o português por Ormando MN (Lagarto Manco) em 2017 (ano da Garuda de Fogo).