Como a Libertação e a Ilusão Surgem
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Como a Libertação e a Ilusão Surgem a Partir da Luz Clara do Solo, etc.
por Yukhok Chatralwa Chöying Rangdrol
Na tradição da Grande Perfeição da Luz Clara, diz-se que a sabedoria subtil a que chamamos de 'corpo vaso da juventude' – uma claridade interior que é imanente e não-obscurecida – está presente nos contínuos mentais de todos os seres vivos, começando pelos espíritos mais humildes dos solos sepulcrais. Este corpo vaso da juventude é a sabedoria da luz clara não-formada, referindo-se à "juventude" no sentido em que está além do nascimento e morte, do envelhecimento e degeneração. É um 'corpo vaso' no sentido em que o selo da presença espontânea permanece intacto. É uma claridade interior que não obstrui os kāyas e sabedorias. E é uma sabedoria subtil, que é geralmente difícil de percepcionar.
O obscurecimento gerado pelos três tipos de tendências habituais é comparado a um vaso. E a própria sabedoria subtil, que possui a identidade dos três kāyas, é comparada a uma lâmpada dentro deste vaso.
Após a conclusão de todos os estágios de dissolução, durante o estágio intermédio de morte do dharmakāya, permaneces na luz clara do solo durante cinco 'dias de meditação'. Ao saíres deste estado, se reconheceres a luz clara do solo como a tua própria projecção, então, num primeiro instante, reconheces o estado natural do solo original e primordial de pureza-alfa; num segundo instante, o sujeito deste reconhecimento dissolve-se no espaço absoluto; e num terceiro instante, conquistando a fortaleza dentro deste espaço absoluto, na morte és libertado na realidade do dharmakāya.
Porém, se não te libertares nesse estado intermédio, então durante o estado intermédio do dharmatā, o selo do corpo vaso da juventude é quebrado, levando à abertura dos portais secretos da presença espontânea e ao surgimento de luzes de cinco cores. Quando esse processo se desenrola de uma forma pura, acontece o seguinte:
Num primeiro instante, reconheces a experiência como sendo a tua própria projecção. Num segundo [instante], reconheces que a tua própria projecção é irreal. Num terceiro instante, o sujeito do reconhecimento (ou análise) é libertado na expansividade do dharmakāya. Nesse momento, radiantes formas de consciência exterior revertem ao interior, e a claridade interna, o agitar da consciência, é libertada no espaço absoluto original. Por uns instantes, permaneces imóvel dentro do solo original. Depois segue-se a manifestação sob a forma de mestres dos três kāyas: surgindo sob a forma do dharmakāya com a essência da sabedoria na dimensão da essência vazia; surgindo sob a forma do sambhogakāya com a essência da luz na natureza consciente; e surgindo sob a forma do nirmāṇakāya com a essência da consciência numa vasta energia compassiva. A esfera pura manifesta-se a partir da lâmpada do espaço totalmente puro; os palácios pacíficos e irados manifestam-se a partir da lâmpada das esferas vazias; as formas pacíficas e iradas manifestam-se das correntes vajra; a fala iluminada manifesta-se a partir do som espontâneo do dharmatā; a sabedoria da mente omnisciente manifesta-se a partir da radiância da consciência da presença compassiva; e as nossas próprias projecções são libertadas sob a forma do sambhogakāya.
Se o processo se desenrolar de forma impura:
O dharmatā torna-se a base para a ilusão de objectos percepcionados; as luzes de cinco cores tornam-se a base para a ilusão de mundo e respectivos habitantes; e a consciência torna-se a base para a ilusão da mente vulgar. As luzes de cinco cores aparecem sob a forma dos cinco elementos; as esferas sob a forma de residências vulgares; as correntes vajra manifestam-se sob a forma do teu próprio corpo; os oito tipos de consciência surgem da omnisciência de presença compassiva sob a forma da mente vulgar, que é a base da ilusão, por intermédio das três causas e das quatro condições; e os vários idiomas das seis classes de seres emergem do som espontâneo do dharmatā. E deste modo, experienciamos a ilusão dentro do ciclo interminável do saṃsāra.
| Traduzido do inglês (Adam Pearcey, 2016) por André A. Pais.