Como o Meio do Espaço Vajra
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Como o Meio do Espaço Vajra
Em louvor a Mañjuvajra
por Mipham Rinpoche
Om. Homenagem a Mañjuvajra!
1. De todos os vitoriosos, é você o pai
Ainda que se manifeste como um jovem príncipe -
Perene, estável, além da velhice e do declínio,
Aparente em todo canto, nos incontáveis reinos.
2. Ó Mañjuśrī, mesmo que os vitoriosos e seus filhos
O tenham louvado através dos tempos e do espaço,
É ainda impossível exprimir verdadeiramente
A extensão de suas qualidades iluminadas.
3. Ema! É somente através do caminho do meio -
A originação dependente de todas as coisas,
Livre dos extremos niilista e eternalista -
Que se pode perceber a sua forma real.
4. A não ser assim, seres com ideias ordinárias
Jamais poderão ver a sua forma esplendorosa.
Aqueles que veem você como sendo corpóreo
Não enxergam o que é o seu kaya genuíno.
5. Você que não é branco, nem tampouco é azul,
Não é da cor laranja, nem é verde, nem é preto.
Não há por entre as cores, em qualquer lugar do mundo,
Aquela que seja a certa para representá-lo.
6. Que você ainda assim, apareça em tantas formas -
Com arranjos infinitos de variadas cores -
Sejam elas brancas, pretas, verdes, azuis, laranjas
Entre outras mais, isso é realmente maravilhoso!
7. Ainda que, na verdade, não possua uma face
E nem mesmo tenha um tronco, mãos, pés ou qualquer membro
Você sempre se manifesta em todos os reinos
Com várias aparências - pacíficas e ferozes.
8. Embora você represente a igualdade absoluta
Entre os fenômenos da existência e a quiescência,
Você é hábil em revelar, dentro mesmo da existência,
A via excelente para a paz - que maravilhoso!
9. É impossível identificar o início ou o fim
Dos variados reinos da existência condicionada,
No entanto, você está sempre presente em cada um
E é assim, dessa forma, verdadeiramente extenso.
10. Com poderes miraculosos e um moto-perpétuo
Seria ainda impossível atravessar o espaço.
Mas você está presente onde quer que o espaço exista
E é, assim, dessa forma, verdadeiramente vasto.
11. Ao mirar, mesmo que num simples olhar de relance,
Você vê a igualdade de tudo que é cognoscível
Pelas dez direções assim como pelos três tempos,
E é assim, dessa forma, realmente incomparável.
12. Assim como os reinos dos seres são inconcebíveis,
É inimaginável a quantidade de tathāgatas.
Como você permeia todos esses infinitos
Objetos da cognição, você é múltiplo também.
13. Com cada guia que conduz os incontáveis seres
Estabelecendo todos eles na quiescência,
Nessa mandala irredutível e inextensível
Você se deleita na mais pura satisfação.
14. Por não possuir o entendimento de que ela é vazia,
Nós seguimos vagando por essa existência cíclica
E mesmo quando compreendemos o seu vazio
Ela ainda em nada se difere do que antes era.
15. E sendo assim, já que você percebe tudo isso,
Quem estaria atado à existência condicionada?
Na natureza além de prisão e libertação,
Como se manifestam os grilhões e a liberdade?
16. Acaso acontecesse de uma entidade surgir,
Essa mesma entidade poderia então cessar.
Isso, por sua vez, faria que fosse possível
Conceber as noções de prisão e libertação.
17. No entanto, aquilo que jamais chegou a surgir
Não é real e apenas na aparência está a nascer,
Sem nem mesmo possuir um centro ou extremidades.
Como então poderia contrair-se ou se expandir?
18. Toda e qualquer ideia, seja de espaço ou de tempo,
Não importa quão expansivas elas possam ser
São todas sempre irreais - mas me diga por que então
Não poderia um só instante conter todas as coisas?
19. Sendo assim, dentro deste estado de equanimidade
Simplesmente inexiste qualquer distinção, seja entre
Eu e o outro ou entre a existência e a quiescência,
E é nesse ponto que se assenta a sua forma absoluta.
20. Não ser capaz de compreender essa equanimidade
É ser enganado por uma coleção de erros,
Seja com relação às origens e fins dos reinos,
Nascimento, duração, vacuidade ou a falta dela...
21. E nisso, como com os inícios e com os fins
O espaço é também semelhante à palma de uma mão;
Pó de terra e ouro são verdadeiramente iguais;
Budas e seres sencientes são apenas um.
22. Portanto, como as coisas são iguais desta maneira,
É possível que apareçam do jeito que aparecem.
Ver a vastidão que desafia a imaginação
Estilhaça a ilusão da existência e da paz.
23. Espaço básico, de onde não há como voltar
E que está além da expressão - é através disso que
Todos podem ganhar a mais profunda confiança
Nas suas qualidades além da imaginação.
24. Entidades, sejam elas reais ou irreais,
Quando postas sob análise, não são encontradas.
Se até as coisas que surgem são, elas mesmas, vazias,
Não existe outra vacuidade que esteja além disso.
25. Como vazio significa que isto é, mesmo, vazio,
E isto, em si, é justamente a própria vacuidade,
Nenhuma distinção poderia jamais ser feita
Entre isto que é a aparência e o que é a vacuidade.
26. E é assim, portanto, que tudo que há de cognoscível,
Todas as coisas, são assim iguais neste sentido:
Dentro de uma só tila de vacuidade manifesta
Elas aparecem como dharmas inconcebíveis.
27. Pelo espaço e pelo tempo em toda a sua extensão,
Não há nada que divirja desta realidade:
A expansão da mente iluminada auto-surgida,
Que é Mañjuśrī, jñānasattva, ser de sabedoria.
28. Por essa minha fé de caráter indestrutível
Na qual posso me regalar, mesmo que seja apenas
Com uma pequena porção desse infinito espaço,
O bindu imutável assentado no coração,
29. [Esfera] dentro da qual existe um a derretido,
Uma fonte, olho d’água de expressões inexauríveis
Baseadas na letra ka, assim como nas demais,[1]
Ofereço a Mañjuvajra o louvor mais elevado.
Ou seja, todas as expressões relacionadas às infinitas coisas a serem comunicadas podem ser incluídas em um único a (ཨ). Além disso, a fé aqui concorda com a aceitação do profundo e adota a perspectiva de um intelecto transcendente; ela inclui a confiança no significado da igualdade suprema e imutável, na qual tudo "se funde" em um só espaço inexprimível - como condensar o espaço em uma só porção.
30. Que a escuta destes versos e o soar deste louvor,
Façam com que Mañjuśrī se encante no coração,
E propicie inexauríveis poderes mnemônicos,
Eloquência corajosa e inteligência indomável.
31. Que através da virtude provinda de meu louvor
E dessa verdade certa, infalível e irrefutável,
A quintessência dos ensinamentos do Dharma,
Eu possa desvelar o kaya da sabedoria.
32. Extremamente profundo, um portal para o dhāraṇī,
Firme na confiança quanto a equanimidade,
Este é dentre todos o mais sublime dos louvores
Ao supremo kaya de sabedoria, Mañjuśrī.
Mipham, que aspira pela yoga do Mañjuvajra definitivo como caminho, escreveu este texto por volta dos vinte anos de idade. Com os versos finais adicionados no momento da cópia, seus ślokas são tão numerosos quanto as excelentes marcas maiores. Que seja virtuoso! Maṅgalam.
| Traduzido por Siddhartha’s Intent Brasil em 2023, a partir da tradução em inglês intitulada “Like the Middle of Vajra Space” de Adam Pearcey em 2022.
Version: 1.0-20240518
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ka (ཀ) é a primeira consoante do alfabeto Tibetano. ↩