Integração com o Solo, Caminho, e Fruição
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Das Práticas Preliminares do Mahāmudrā: Integração Contínua com o Solo, Caminho, e Fruição
pelo Khenpo Gangshar Wangpo
Uma chuva suave do sagrado dharma cai das muitas nuvens de bondade reunidas no céu intangível, humedecendo os campos dos afortunados discípulos e causando um contínuo florescer de virtude. Glorioso e amplamente reconhecido Guru, sois o solo de todo o benefício e felicidade — permanecei para sempre dentro do meu coração.
Ei! Ouve bem, meu tão afortunado e meritório filho! Agora que adquiriste esta forma humana, não a desperdices como se mandasses fora um bem precioso — aproveita ao máximo as suas liberdades e oportunidades.
Podes agora ter o que é difícil de encontrar, mas o momento da tua morte é desconhecido. Por que razão, então, não ponderarias continuamente sobre a mortalidade e a impermanência da vida?
Se recordares isto das profundezas do teu coração, terás a coragem de tentar enganar a lei kármica de causa e efeito?
Quaisquer raízes de virtude que acumules nunca irão além das causas do saṃsāra; refletindo sobre a experiência de duḥkha, porque não capturar a fortaleza do estado natural — a grande vacuidade?
Quando desejares ser rapidamente libertado do oceano de saṃsāra, toma as Três Jóias, estáveis e infalíveis, como o teu refúgio. Procurar refúgio somente para ti próprio é um caminho parcial; treina continuamente, portanto, na atitude altruísta do Bodhicitta.
Os portais para acumulares este mérito essencial são as nobres práticas de acumulação e purificação — as seis perfeições; todos os obstáculos deverão ser dissolvidos no coração de Vajrasattva; e para eliminar obstáculos e fazer progresso lembra-te da bondade do Guru.
Não te distraias com a complexidade e o palavreado de liturgias Ngöndro; limita-te a ponderar sobre estes pontos essenciais repetidas vezes, e em breve as práticas preliminares e principais farão parte da tua experiência, assegurando a vitória sobre o Māra das Emoções.
Se não conseguires distinguir solo, caminho, e fruição, a tua prática será como um vagabundo entre vales desconhecidos. Portanto, familiariza-te com o caminho do Mahāmudrā, o verdadeiro pináculo dos veículos causais e resultantes, sūtra e tantra.
A natureza da tua mente é o Buda primordial. No entanto, a não compreensão desse facto fez com que caísses sob o poder da confusão e da tortura da aceitação e rejeição chamada saṃsāra. Isto é universalmente aceite como o solo.
Quando esta confusão surgir, se conseguires, limita-te a sustentar o despido e interno brilho da consciência vulgar e vazia, e encontra o estado natural além de benefício e dano — é isto que chamamos de caminho.
Quando não há distração, seja de dia ou de noite, surge a experiência de uma constante equanimidade além dos limites da expetativa e do medo; a força da sabedoria é poderosa, uma compaixão natural brota do interior, e tanto saṃsāra como nirvāṇa são efectivados — isto é o resultado.
Estes são, então, o solo, caminho, e fruição. Faz pouco sentido um entendimento parcial; portanto, familiariza-te com eles e integra-os completamente na tua mente.
Estes pontos são a verdadeira quintessência da minha própria prática. Ofereci-tos na esperança que sejam benéficos e que tu mesmo realizes continuamente atividades altruístas — estima-os como a roda da sabedoria, a arma extremamente aguçada dos meios hábeis.
Estas palavras de conselho oferecidas de acordo com a minha própria experiência são objetivas, ricas em significado e profundas. Eu, o velho mendigo Gangshar Wangpo, escrevi as palavras que me vieram à mente de forma a apresentá-las a ti, Salje Dampa, mestre-Vajra de Surmang.
| Traduzido do inglês (Sean Price, 2019) por André A. Pais, 2020.