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ISSN 2753-4812
ISSN 2753-4812

Bodhicaryāvatāra — Capítulo 1

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Bodhicaryāvatāra: Uma Introdução ao Modo de Vida do Bodhisattva

de Śāntideva

Na língua da India: Bodhicaryāvatāra
Na língua do Tibete: བྱང་ཆུབ་སེམས་དཔའི་སྤྱོད་པ་ལ་འཇུག་པ། (changchub sempé chöpa la jukpa)
Na língua Portuguesa: Introdução ao Modo de Vida do Bodhisattva

Homenagem aos budas e bodhisattvas!

Capítulo 1 — Os Benefícios do Bodhicitta

[1] Com devoção presto homenagem aos budas rumados ao êxtase,
Ao seu corpo do Dharma, aos seus nobres herdeiros e a todos os dignos de respeito.
De acordo com as escrituras, brevemente descreverei agora
Como adotar a disciplina de todos os herdeiros dos budas.

[2] Nada há aqui que não tenha já sido dito;
E na arte da composição não possuo qualquer habilidade.
Assim, não imagino ser isto útil a outros,
E escrevo-o apenas para familiarizar a minha mente.

[3] Através disto, a minha fé fortalecer-se-á por um momento,
E acostumar-me-ei àquilo que é virtuoso.
Então, venham outros, de alguma forma iguais a mim na fortuna,
A encontrar estas palavras, poderão eles considerá-las benéficas.

[4] Esta forma humana livre e bem favorecida é de difícil obtenção.
Agora que temos a possibilidade de concretizar a totalidade do potencial humano,
Se não fizermos bom uso desta situação,
Como poderíamos esperar obter, novamente, semelhante oportunidade?

[5] Como o rasgo de um relâmpago numa nebulosa e escura noite,
Que, por um instante apenas, revela a sua luz brilhante,
Raramente, através do poder dos budas,
Surge uma mente virtuosa, fugazmente, às pessoas do mundo.

[6] Todas as virtudes vulgares são, portanto, eternamente frágeis,
Enquanto a negatividade é forte e difícil de suportar -
Excetuando uma mente focada na perfeita budeidade,
Que outra virtude poderia alguma vez superá-la?

[7] Contemplando sabiamente ao longo dos tempos,
Os poderosos budas viram o seu grande benefício:
Através dela as infinitas multidões de seres
Obtêm facilmente os mais elevados estados de êxtase.

[8] Aqueles que desejam triunfar perante as aflições da vida,
E que desejam pôr um fim à agonia dos outros,
Aqueles que procuram viver abundantes alegrias -
Possam eles nunca virar as costas ao bodhicitta.

[9] Pois no preciso instante em que o bodhicitta nasce
Nos fatigados reclusos escravizados no saṃsāra,
São eles chamados de herdeiros dos budas que rumaram ao êxtase,
Veneráveis aos olhos de deuses, humanos e do mundo.

[10] Como elixir supremo de alquimistas,
Ele pega nesta forma humana impura e vulgar
E dela dá à luz o inestimável corpo de um Buda -
Tal é o bodhicitta: agarrêmo-lo com firmeza!

[11] Com a sua ilimitada sabedoria, os guias únicos dos seres
Investigaram minuciosamente e viram o seu valor.
Assim, quem pretender libertar-se de estados condicionados
Deve agarrar este precioso bodhicitta e protegê-lo bem.

[12] Todas as outras virtudes são como a árvore de plátano:
Dando o seu fruto, deixam depois de existir.
Porém, constantemente a maravilhosa árvore do bodhicitta
Produz frutos e, sem diminuir, cresce sempre mais.

[13] Mesmo aqueles que tenham cometido intoleráveis crimes,
Ao possuir o bodhicitta são instantaneamente libertados;
Como um bravo companheiro afugentando todos os medos,
Porque haveria, então, a prudência de não confiar nele?

[14] Tal como o imenso fogo no fim dos tempos
Aniquila terríveis faltas num só instante,
Os seus benefícios são vastos para além de qualquer medida,
Tal como o sábio Senhor Maitreya explicou a Sudhana.

[15] Compreende que, em poucas palavras,
O bodhicitta tem dois aspectos:
A mente que aspira a despertar,
E o bodhicitta que é executado.

[16] Assim como se entende a diferença
Entre desejar ir e partir numa jornada,
O sábio deve entender estes dois,
Reconhecendo a sua diferença e a sua ordem.

[17] O bodhicitta aspirativo traz grandes resultados,
Mesmo enquanto continuamos a girar no saṃsāra;
No entanto, não gera uma corrente incessante de mérito,
Pois isso virá apenas do bodhicitta ativo.

[18] A partir do momento em que realmente assumimos
Esta atitude irreversível -
A mente que aspira a inteiramente libertar
Os infinitos reinos de seres,

[19] A partir de então, mesmo durante o sono,
Ou durante momentos de desatenção,
Uma força de mérito abundante e incessante
Erguer-se-á, igual à vastidão do céu.

[20] Isto foi explicado pelo Buda,
Com o apoio de argumentação,
Num ensinamento a pedido de Subāhu,
Para o benefício daqueles inclinados a vias menores.

[21] Se um mérito ilimitado chega a quem,
Com a intenção de prestar auxílio,
Tem simplesmente o pensamento de aliviar o mal-estar
Daqueles afligidos por uma mera dor de cabeça,

[22.] Que necessidade há de falar do desejo
De dissipar os intermináveis sofrimentos de todos os seres,
Ou o anseio de que possam todos eles adquirir
Qualidades iluminadas infinitas em número?

[23] Os nossos pais ou mães,
Terão eles sequer tamanha beneficência?
Terão os deuses ou os grandes sábios?
Terá o próprio Brahma, o poderoso?

[24] Se estes seres nunca antes
Tiveram esta aspiração para si próprios -
Nem mesmo em sonhos - como poderiam
Eles tê-la desejado para os outros?

[25] Um pensamento como este - querer para os outros
O que eles não desejam nem para si mesmos -
É uma atitude mental extraordinária e preciosa;
E a sua ocorrência uma maravilha como não há igual!

[26] Esta fonte de alegria para os que vagueiam na existência,
Este elixir que cura os sofrimentos de todos os seres,
Esta jóia inestimável no seio da mente -
Como poderia tal mérito ser alguma vez avaliado?

[27] Porque se o simples desejo de beneficiar os outros
Ultrapassa as oferendas feitas perante os budas,
Que necessidade há de mencionar o esforço
Levado a cabo para o bem de todos sem excepção?

[28] Embora procurem evitar a dor,
Mergulham de cabeça no sofrimento.
Anseiam por felicidade, mas tolamente
Destroem-na, como se de um inimigo se tratasse.

[29] Providenciando todo o tipo de alegria,
E erradicando todo o sofrimento
Daqueles desprovidos de qualquer felicidade verdadeira,
E que são oprimidos pelo fardo da tristeza,

[30] Trazendo um fim também à sua confusão -
Que outra virtude é comparável a isto?
Que amigo existirá que faça tanto?
Que outra coisa haverá que tão meritória seja?

[31] Se até aqueles que praticam boas ações como retribuição
De favores passados são dignos de algum louvor,
Que necessidade há de mencionar os bodhisattvas,
Cujas ações perfeitas são realizadas sem serem solicitadas?

[32] Há quem ocasionalmente ofereça refeições, e apenas a alguns;
As suas oferendas, que não passam de comida, são feitas uma única vez,
E com desrespeito, trazendo alimento para meio dia apenas -
E, no entanto, o mundo louva tais pessoas como virtuosas.

[33] No entanto, como se compara isto aos que dão
Por muitas eras e a toda a infinitude de seres,
Constantemente suprindo-lhes cada um dos seus desejos:
A felicidade insuperável nascida do êxtase da budeidade?

[34] E aqueles que nutrem sentimentos de hostilidade
Para com estes benfeitores, os herdeiros dos budas,
Irão definhar nos infernos, assim disse o poderoso Sábio,
Durante tantas eras quantos os momentos da sua maldade.

[35] Por outro lado, olhá-los com apreço,
Trará benefícios numa ainda mais vasta escala.
Pois, mesmo na adversidade, os herdeiros dos budas
Não trazem qualquer dano, apenas uma virtude sempre crescente.

[36] Inclino-me diante de todos aqueles em quem
Esta mente, a mais preciosa e sagrada, nasce!
Tomo refúgio nessas grandes fontes de alegria
Que levam a bem-aventurança até àqueles que os prejudicam.


| Traduzido do Tibetano por Adam Pearcey, 2007. Traduzido para Português por Maria Conceição Gomes, 2022. Revisto por André A. Pais, 2023.

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